domingo, 6 de novembro de 2011

Há um ano, a prefeitura do RJ transformava seus ônibus em propaganda da gestão

Há exatamente um ano, a prefeitura do RJ, na gestão de Eduardo Paes, com o apoio técnico do secretário de transportes Alexandre Sansão, colocava em prática seu plano decidido sem consultar a população, imposto de maneira autoritária e sem competência para tal, de padronizar e reorganizar o sistema de ônibus municipais da capital fluminense.

De início, foi uma revolta, primeiro por parte dos busólogos, que em massa lotaram as caixas de comentários de fóruns protestando contra a medida. Passado o tempo, muitos desses busólogos mudaram de ideia e passaram a gostar e até defender o novo sistema que neste período já demonstra muitíssimas falhas, percebidas apenas por usuários, estes sim, reclamando até hoje.

Essa ideia de padronização surgiu em Curitiba em 1974, por Jaime Lerner, arquiteto urbanista e político, ex-prefeito biônico da ditadura militar. Os ônibus não seriam mais identificados pela empresa, mas por outros critérios, possibilitando um número maior de linhas por cor, dificultando a identificação do ônibus desejado por pessoas analfabetas, com dificuldade de visão ou simplesmente apressadas, passando todas a serem obrigadas a ler as bandeiras detalhadamente.

E se o ônibus for visto de lado, de trás? Se ele tiver a bandeira defeituosa? Se ele passar direto quando eu conseguir identificar a linha? Perguntas que não passaram pela cabeça dos "imaculados" tecnocratas que inventaram o sistema.

Mas o modelo escolhido por Eduardo Paes, prefeito do RJ foi o de São Paulo. A estampa escolhida foi uma de autoria de Carlos Ferro, responsável pelas pinturas da Itapemirim e Util. Ferro é famosos pela pouca criatividade, já que suas pinturas costumam ser bem parecidas. Elementos da pintura da Util e quase toda a pintura da Itapemirim foi colocada no projeto. Estranhamente, Ferro quase não é contratado pelas empresas do Estado do RJ, que usam mais os belíssimos projetos de Álvaro González, amigo nosso e busólogo muito bem informado.

Em setembro de 2010, o projeto foi apresentado, com um Eduardo Paes visivelmente tenso, utilizando uma Torino existente da empresa Real Auto Ônibus (que estranhamente ameaça se extinguir), numerada como 00001. Paes não gostou do bege predominante e sugeriu para que Ferro mudasse para cinza-pardo. E voi-lá. A pintura polêmica já estava definida.

Sem imagem para zelar

Muitas empresas não gostaram da padronização, pois as mesmas foram prejudicadas no setor de marketing. Cada empresa perdeu a sua identidade personalizada, tornando cada uma sem sua imagem de divulgação. Nem a colocação do logo foi permitida, pois Paes decidiu dificultar ao máximo a identificação das empresas, limitando a um nome mal legível embaixo do - dispensável - nome do consórcio.

Sem imagem a zelar, as empresas resolveram relaxar na conservação da frota e na execução do serviço, piorando gradativamente até chegar ao caos de hoje. Até linhas reservadas para um consórcio estão sendo feitas por carros de outro, o que a prefeitura considera ilegal, embora isso não importe para o usuário.

O Rio está na contramão de Salvador, que outrora tinha um sistema de ônibus péssimo, e agora melhora gradativamente, com leis obrigando carros grandes e conservação/renovação constante.

Até a busologia reflete este momento, já que enquanto os baianos se tornam mais informados, cordiais, tirando fotos de altíssima qualidade (raras na época em que eu morava lá), os busólogos cariocas brigam o tempo todo, com cada um defendendo o seu ponto de vista como se fosse um decreto e ignorando os conselhos e os pontos de vista alheios, mesmo com explicação.

Muitos busólogos que elogiam o sistema, não se utilizam dele, por possuírem carros ou simplesmente por utilizarem as linhas melhores servidas. Embora nenhum deles assuma, é natural que busólogos não se preocupem com a qualidade do serviço dos ônibus. O foco deles é na beleza e no aspecto técnico dos veículos. Por não focarem a qualidade do serviço, muitos não veem defeitos no sistema, aprovado pela maioria. Como se um lindo e gigantesco BRT caído do céu feito um OVNI fosse resolver todos os problemas do sistema.

A fatia podre fica com o usuário

Nesta confusão toda, o usuário fica com a pior. É ele que encara de frente os defeitos do sistema. É a pessoa que entra no ônibus lotado após esperar muito, "curtindo" engarrafamentos, assaltos, veículos sendo pifados, entre outros milhares de problemas que somente quem usa esse tipo de transporte conhece muito bem.

E nosso voto de Infeliz Aniversário de um ano a esse grande erro. "Parabéns", Paes. Você não anda de ônibus e nem sabe o que é. Entregar a decisão a alguém que está alheio ao transporte deu nisso. Burros nunca decidem corretamente.

Era melhor ter ficado como estava. Mesmo com os defeitos que tinha. Era bem menos que a quantidade dos atuais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.