quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PADRONIZAÇÃO VISUAL DOS ÔNIBUS: PROJETO DE DIREITA .

A DIREITA BOTA FARDA NOS ÔNIBUS - Políticos que impuseram a padronização visual dos ônibus.

Historicamente, a padronização visual dos ônibus e todo um conjunto de medidas que envolve diminuição de frotas de ônibus em circulação, sistema de pool, consórcios e outros paliativos, está sempre associada a contextos políticos de direita, voltados aos interesses conservadores e contrários à vontade do povo.

Sabemos que o transporte coletivo de Curitiba, tão tido como "moderno" e "futurista", foi adotado durante o auge da ditadura militar, em 1974, implantado pelo prefeito "biônico" Jaime Lerner, filiado pela ARENA.

Mas de um modo ou de outro, a implantação dessas medidas, dentro de uma suposta racionalidade relativa ao transporte coletivo, sempre se relaciona com grupos políticos conservadores, tradicionalmente vinculados à direita, por mais que Jaime Lerner e o ex-secretário de transporte de Salvador, Marcos Medrado, se escondam, com cínico oportunismo, em partidos de centro-esquerda.

Aqui vamos listar os figurões das fotos mostradas no topo deste tópico:

JAIME LERNER - Considerado o maior tecnocrata do transporte coletivo, hoje trabalha como consultor. Pioneiro na adoção de medidas paliativas, com uma modernidade de fachada, que adaptam o sistema de ônibus a conceitos e procedimentos neoliberais. Virou símbolo de uma mentalidade falsamente progressista relacionada ao transporte coletivo, defendendo um modelo tecnocrático que, na teoria, soa perfeito, mas que já começa a mostrar seu dramático desgaste já na sua cidade de origem, Curitiba, capital do Paraná, onde o projeto de Lerner foi implantado em 1974. Historicamente filiado à ARENA, Lerner tentou uma passagem no PDT, depois voltou à direita pelo DEM e hoje está no PSB, partido que hoje mais parece um engodo ideológico situado entre o PMDB e o PPS.

OLAVO SETÚBAL - Banqueiro dono do Itaú, falecido há dois anos, Setúbal foi historicamente ligado à ARENA e ao hoje demotucano Paulo Egydio Martins, ex-governador de São Paulo, político conservador paulista que conseguiu desviar a União Nacional dos Estudantes para a direita, em 1951. Egydio, que também foi ministro da ditadura militar, o indicou para ser prefeito da capital paulista. No cargo, Setúbal implantou o padrão atual de transporte coletivo de São Paulo, baseado na uniformização visual, nos consórcios e no método tecnocrático de gerenciamento do sistema pelo Estado, com investimentos da iniciativa privada.

FRANCELINO PEREIRA - Ligado à ARENA e hoje no DEM, ele foi governador de Minas Gerais quando surgiu o Metrobel (atual BHTrans), que adotou a metodologia tecnocrática do transporte coletivo da Grande Belo Horizonte, nos anos 80.

MARCOS MEDRADO - Um dos afilhados políticos de Antônio Carlos Magalhães, Marcos Medrado é uma das figuras do conservadorismo político de Salvador, Bahia. Figura da direita política brasileira,foi presidente regional do PDC, mantendo-se no cargo depois da fusão do partido com o PDS malufista, virando PPB (atual PP). Como secretário de Transportes de Antônio Imbassahy (então também ligado ao carlismo baiano), Marcos Medrado reimplantou o esquema de pool nos ônibus (que tinha sido dissolvido pela prefeita Lídice da Mata, na gestão anterior), fortaleceu a corrupta medida das "frotas reguladoras", diminuiu as frotas em circulação, agrupou empresas em consórcios e bagunçou a distribuição de linhas nos bairros, sem critérios definidos de área. Além disso, permitiu a "padronização" de visual branco-básico da maioria das empresas de ônibus. Marcos Medrado está filiado ao PDT porque seu grupo político de dissidentes carlistas migrou para o partido, quando o atual prefeito João Henrique, ainda na sua primeira gestão e hoje no PMDB, estava então filiado.

JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Quando assumiu o governo do Distrito Federal, José Roberto Arruda retomou a uniformização visual dos ônibus, que começava a ser dissolvida por algumas empresas de Brasília. Então filiado ao DEM, José Roberto Arruda, que é ligado a Joaquim Roriz, tradicional figura da direita política brasiliense, espécie de versão candango de Paulo Maluf, foi personagem de destaque no noticiário nacional por conta do esquema de corrupção montado por ele e que se tornou conhecido como "mensalão do DEM". O escândalo custou seu cargo político. Arruda chegou a ser preso, mas foi beneficiado pelo habeas corpus que garante a impunidade dos ricos e poderosos.

EDUARDO PAES - Afilhado político de César Maia - ex-comunista há muito integrado à direita política carioca - , Eduardo Paes integra a ala ultraconservadora do PMDB. Como subprefeito da Barra da Tijuca, realizou medidas anti-populares, sempre a favor dos interesses das classes mais ricas. Passou por outros partidos e sua candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro, seu atual cargo, teve o apoio de vários políticos do DEM, apesar do rompimento com seu padrinho político. Estabeleceu, recentemente, conchavos com dirigentes olímpicos, fazendo o lobby para que o Rio de Janeiro, mesmo sem condições reais de realização, fosse escolhido sede das Olimpíadas de 2016. Recentemente, Eduardo Paes decidiu implantar outras medidas impopulares, como o fechamento de um longo trecho da Av. Rio Branco (claramente de acordo com os interesses das classes ricas e conservadoras), que pode provocar violentos engarrafamentos na cidade, e a padronização visual do sistema de ônibus carioca, que irá confundir os passageiros, principalmente nas classes populares. Seu atual padrinho, Sérgio Cabral, tem afinidades na postura conservadora e anti-popular.

sábado, 18 de setembro de 2010

Cada um enxerga como quer: "Ganho estético"

Ganho estético segundo busólogos e defensores da diversidade visual:




Ganho estético segundo Eduardo Paes e defensores da padronização carioca:


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

PÉSSIMA NOTÍCIA: EDUARDO PAES IMPÔS PADRONIZAÇÃO VISUAL

Em completo desprezo ao interesse público, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, já divulgou o projeto de padronização visual dos ônibus, através de um ônibus sustentado pela Real Auto Ônibus.

As empresas de ônibus perderão autonomia nas linhas, que passarão a ser de responsabilidade de uma paraestatal, denominada "Cidade do Rio de Janeiro", que controlará as linhas e decidirá pela renovação dos carros. As empresas se limitarão, no serviço de ônibus, a responsabilidades técnicas, como manutenção das frotas, e financeiras, como o custeio na aquisição de novos carros. A renovação, no entanto, será decidida pela Prefeitura do Rio de Janeiro, através de uma "avaliação" das frotas das empresas.

A medida também acabará com a busologia como hobby, porque agora só haverá busólogos "profissionais", que visitam garagens de ônibus e almoçam com autoridades e empresários. Uma "panelinha" de busólogos que identifica o chassiz de um ônibus só ao ouvir o ronco, mas que não valoriza os interesses públicos dos passageiros. Só eles poderão identificar com exatidão as empresas de ônibus, porque o resto da sociedade se sentirá confuso na tentativa de identificação.

POVO PODE PEGAR ÔNIBUS ERRADO: BAIXADA SERÁ MAIS PREJUDICADA

O povo do Grande Rio será prejudicado com essa medida arbitrária do prefeito carioca, que provocará uma bagunça no sistema de transporte coletivo carioca. Haverá, aliás, um grande colapso no sistema de transporte coletivo, que passará por uma decadência sem precedentes, que nem os otimistas conseguirão desmentir.

A população mais lesada será a dos municípios da Baixada Fluminense, que utilizam serviços na cidade do Rio. Mas todos correm sério risco de pegar ônibus errado, transtorno que não será compensado pelo Bilhete Único, solução demagógica do sr. Paes, porque a questão não é somente gasto de passagem, mas de perda de tempo e de paciência.

Digamos que uma população de Nilópolis pegue um ônibus para a Pavuna. Na Pavuna, pega o 779, para Madureira, pensando ser o 942, para a Penha, onde tem um hospital em que um parente adoecido esteja inscrito. Digamos que o doente esteja em estado gravíssimo, e morre depois que o 779 já entra em Madureira. Será um sério dano, mesmo que os custos sejam abatidos pelo Bilhete Único.

Há também o risco da violência. Um cidadão que, nas 17:50 de sábado, queira ir para o Maracanã visitar um amigo e está no mergulhão da Av. Alfred Agache para pegar um ônibus. Ele pega o ônibus da 474 Jacaré / Jardim de Alah pensando pegar o 455 Méier / Copacabana e, na proximidade de Triagem, o cidadão, desesperado, decide saltar do ônibus. E, na espera de um ônibus para o Maracanã, ele é assaltado, leva um susto e o assaltante, irritado, o mata.

Como é que fica Eduardo Paes nessa, mesmo com toda a garantia de Bilhete Único?

CURITIBA E SÃO PAULO MOSTRAM TRANSTORNOS COM A PADRONIZAÇÃO VISUAL. FLORIANÓPOLIS BANIU A MEDIDA

A medida de Eduardo Paes surge em péssima hora, quando as cidades de São Paulo e Curitiba mostram indiscutível decadência do transporte coletivo, com transtornos seriamente ligados à uniformização visual, aos chamados "ônibus fardados".

Na Grande Curitiba, o poder concentrado do Estado já influi no declínio do serviço de ônibus, cada vez mais lentos e superlotados. A falta de manutenção fez com que a roda de um ônibus intermunicipal se soltasse, matando uma mulher. Em São José dos Pinhais, a circulação de ônibus sem a exibição de placas indicativas das linhas confunde os passageiros. Mas tanto na Grande Curitiba quanto na Grande São Paulo, são surpreendentemente constantes os casos de passageiros que pegam ônibus errados, causando problemas como morte de doentes a caminho dos hospitais, atrasos no serviço e nos estudos, comprometendo o rendimento no trabalho e no aprendizado.

Além da decadência desse modelo de transporte, que na verdade foi implantado na ditadura militar - chamamos a uniformização visual dos ônibus de "fardamento" e os "ônibus fardados" de Curitiba, pioneira na medida, até parecem com os ônibus das Forças Armadas - , Florianópolis havia encerrado com essa medida há vários anos.

A capital catarinense retomou a diversidade visual, o que fez melhorar a identificação das empresas de ônibus. Apenas duas empresas, Emflotur e Biguaçu, contam com a mesma pintura porque são associadas. Mas até mesmo a Imperatriz, última a adotar o antigo padrão visual de Floripa, também mudou sua pintura.

MEDIDA GERARÁ PREJUÍZO E DESGASTE

Até agora, não são estimados os prejuízos financeiros e morais que a uniformização visual imposta pelo prefeito do Rio irá causar. Sabe-se que serão enormes, mesmo com o paliativo do Bilhete Único.

O provável é que a medida não dure a vida toda e a uniformização visual já demonstre uma medida completamente falida já em 2016. Até lá, transtornos maiores demonstrarão a falência completa da "curitibanização" dos ônibus, contribuindo para o desgaste político das autoridades e o completo ceticismo dos passageiros das classes populares.

Portanto, a medida já nasce com prazo de validade vencido. Só perdurará se as autoridades forçarem a barra, mas o desgaste funcional será tão grande que podemos prever, no máximo, dez anos para que a medida seja banida e resulte na volta da diversidade visual que tanto facilita a percepção do nosso povo.



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Golpe de 1964 atinge tardiamente a busologia carioca

COMENTÁRIO DESTE BLOGUE: O Alexandre fez uma excelente comparação. Eduardo Paes vomitou literalmente essa padronização na cara da população, sem querer saber se ela queria ou não, numa típica atitude de quem pensa que sabe mais do que os outros. Uma atitude explicitamente e totalmente anti-democrática que pode ajudar a piorar o sistema de ônibus do RJ.

Mas esse cara vai ter o seu troco quando tentar se reeleger. Um troco bem caro.

GOLPE DE 1964 ATINGE TARDIAMENTE A BUSOLOGIA CARIOCA

sábado, 18 de setembro de 2010 - Alexandre Figueiredo - O Kylocyclo

Resíduos da ditadura militar estão em toda parte. Isso é fato. Até hoje, as feridas que o Brasil sofreu durante o período militar (1964-1985) não foram em todo resolvidas, e, em certos casos, se agrava seriamente.



É notório, por exemplo, que existe uma postura golpista, defendida abertamente pela chamada mídia gorda (grupos Abril, Globo, Estadão e Folha), e de forma sutil pela mídia fofa (Bandeirantes, Isto É, Diários Associados). Mas mesmo o entretenimento brega-popularesco também têm sua facção golpista, com pessoas como Olavo Bruno, Francielly Siqueira, Eugênio Raggi e até vários "anônimos" ou "heterônimos" defendendo os "sucessos do povão" (na verdade claramente patrocinados pelos grandes donos do poder político e econômico) com unhas e dentes, como verdadeiros "cães de guarda" das oligarquias que dominam o país.

Mas o golpismo existe mesmo até na busologia, e poucos conhecem o lado sombrio, bastante sombrio, do transporte coletivo de Curitiba.

Para começar, o arquiteto Jaime Lerner se formou na mesma UFPR que teve como reitor o temível Flávio Suplicy de Lacerda, que foi ministro da Educação no governo de Castelo Branco e que manifestou seu desejo de privatizar o ensino superior, além de criar uma entidade estudantil que, substituindo a UNE, seria na verdade manobrada pela ditadura militar. A gestão do ministro Suplicy de Lacerda provocou a revolta estudantil, em episódios que hoje se tornaram históricos, entre 1966 e 1968.

Jaime Lerner era filiado à Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e foi prefeito "biônico" de Curitiba, quando implantou seu padrão de transporte coletivo que hoje o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, impõe à cidade. "Biônico" era o apelido do qual os políticos nomeados pelo regime militar eram conhecidos. Era um sarro com o seriado O Homem de Seis Milhões de Dólares, em exibição na TV nos anos 70, cujo enredo girava em torno de um homem-biônico.

O projeto de Lerner, com todas as alegações que os tecnocratas do transporte carioca hoje fazem - "limpeza visual", "mais disciplina (sic) no transporte", "organização por serviço de linhas" etc - , é, com surpreendente exatidão, a mais fiel tradução, aplicada ao sistema de ônibus, do projeto político, econômico e técnico da ditadura militar.

DIVERSIDADE VISUAL É DEMOCRACIA, ATÉ NA HORA DA ACUSAÇÃO GOLPISTA

Também a própria ditadura militar usava um discurso "bonito", "moralista". Assim como os tecnocratas do transporte coletivo acusam a diversidade visual dos ônibus de "poluição visual", os defensores da ditadura militar chamavam a democracia autêntica de "desordem".

É exatamente isso que você leu no parágrafo acima.

Da mesma forma que o livre direito do povo de se expressar, de ter uma visão independente mas sempre vinculada à sua experiência concreta do cotidiano, a seus problemas e desafios, é visto pelas elites golpistas como se fosse "baderna", "bagunça" e "desordem", as elites golpistas do transporte coletivo chamam o direito da livre concepção visual das empresas de ônibus, expressão de sua autonomia operacional, de "poluição visual".

Daí a "necessidade", defendida pelos tecnocratas do transporte coletivo, em botar verdadeiras FARDAS nos ônibus.

Isso irá confundir seriamente os passageiros, porque assim como diferentes empresas de ônibus passarão a ter a mesma estampa, uma mesma empresa de ônibus pode ter mais de um desenho. Sendo mais claro: a delimitação da pintura por áreas de bairros ou tipo de ônibus (como micros e articulados) fará com que diferentes empresas que atuem numa mesma zona com o mesmo tipo de ônibus tenham pintura igual, enquanto uma só empresa que opere com tipos de ônibus diferentes vai ter mais de uma pintura.

Voltaram os fantasmas da ditadura militar, aquele moralismo tecnocrata, confiante de uma "eficácia absoluta" e de um "rigor administrativo" que, na realidade, são impraticáveis, tanto que o próprio modelo de transporte adotado por Jaime Lerner sofre um terrível desgaste na sua cidade de origem, o que anda tirando o sono das autoridades e tecnocratas paranaenses, que têm que esconder a sujeira debaixo do tapete enquanto mostram um "transporte de conto de fábulas" nos eventos internacionais e nacionais sobre transporte coletivo.

A tecnocracia sempre aposta numa falsa democracia, numa "democracia de gabinete", em que pretensos especialistas julgam a "vontade popular" no isolamento das quatro paredes de seus escritórios. Isso não vale somente para José Serra, o derrotado da hora, mas também para Jaime Lerner e Pedro Alexandre Sanches, que veem o interesse público olhando para seus umbigos. Por enquanto eles são vistos como "deuses" pela plateia deslumbrada, como o próprio Serra foi endeusado durante anos, desde os primeiros tempos da anistia até o decorrer da redemocratização.

Mas muita coisa ainda vai ocorrer para que essa "democracia de gabinete" mostre seu sentido verdadeiro, anti-popular, de arquitetos, sociólogos, antropólogos sem vivência social concreta. Afinal, julgar o povo através das quatro paredes dos escritórios mostrará seus novos equívocos.

Afinal, foi derrubada a "democracia de caserna" dos generais do regime militar, e agora começa a cair a "democracia de escritório" do PSDB e da mídia associada, e daqui a pouco a "democracia de gabinete" de arquitetos urbanos, sociólogos e antropólogos etnocêntricos e críticos musicais que vivem no mundo da Lua (ou de Londres e Nova York), que só veem o povo de longe, vai ruir.

O padrão "curitibano" de transporte coletivo ainda vai experimentar muitos desastres. Infelizmente é preciso que tais erros aconteçam. Dificilmente esse padrão prevalecerá por mais de 10 anos. Em 2016, o modelo de transporte baseado na concentração de poder das Secretarias de Transporte, na padronização visual e na ditadura dos "consórcios", estará em frangalhos.